O SUCESSOR
Elegeu-se prefeito. Diplomado, estranhou
a ausência do antecessor na posse. No dia três do primeiro mês do mandato
chegou ansioso à prefeitura. Um homem veio abrir a porta. Pediu que entrasse,
cumprimentando o prefeito pela eleição e desejando-lhe sucesso na gestão da
cidade.
A prefeitura estava vazia e silenciosa,
mas achou por bem não comentar nada ao homem que mostrava ao prefeito o caminho
do gabinete como se não conhecesse; afinal, pensou que estivesse chegado muito
cedo para as atividades.
Caminhou por passos lentos, seguindo o
funcionário. As paredes escuras do corredor o espreitavam. A sala onde antes
havia a recepção estava desocupada. No chão, os fios soltos do sistema de
telefonia.
- O gabinete é ali, doutor! – disse o
homem indicando a porta escura e fechada à sua frente. – Pode entrar, não está
trancada. Levaram embora a maçaneta.
Empurrou a porta devagar. Estendeu o
braço para alcançar o interruptor. O homem adiantou-se.
- Não há luz. Está cortada faz tempo.
E foi puxando uma a uma as lonas escuras
que cobriam as vidraças do gabinete.
Não havia móveis algum na sala. Nem
mesa, nem computador, nem telefone, nem armários. Apenas uma cadeira com os
estofados esturricados fora deixada para trás.
- Deixaram apenas a cadeira – disse o
prefeito com a intenção de aproximar-se. O homem o deteve, segurando-o pelo
braço.
- Cuidado prefeito, o buraco!
Sentiu um arrepio na espinha quando viu
o buraco no meio da sala e por pouco não caíra dentro.
- Pensei fosse o desenho de um mosaico no
piso.
Da beirada tentou enxergar o fundo, mas
a parede imunda foi escurecendo a medida que se aprofundava até mergulhar de
vez na escuridão do buraco.
- Para que serve este buraco aí? –
perguntou o prefeito.
- Não me disseram não senhor! Mas ele
está aí, do jeito que deixaram.
- Pelo menos ficou uma cadeira – disse voltando-se
para o objeto deixado no canto.
- Fosse o senhor, não sentava nela não!
- E por quê? Preciso de um lugar para
despachar...
- Esta cadeira, doutor, é amaldiçoada.
Quem senta nela, nunca mais quer sair de cima...
O prefeito sorriu olhando novamente para
a cadeira.
- Se der uma reformada, fica novinha em
folha!
E quando se voltou para o homem já não
estava mais ali. Tragado que fora pelo buraco.